Do consumo ligado às classes mais pobres da população, ela já foi alçada ou é iguaria da alta gastronomia em restaurantes badalados, como os paulistanos Tordesilhas, DOM, e mais tantos outros, país afora. Agora, a mandioca, aipim, macaxeira, maniva, uaipi, castelinha – vai a mais de uma dezena as suas denominações – passa de alimento ligado estritamente às raízes da cultura alimentar brasileira, a uma nova e não menos nobre função: servir de embalagens diversas, sustentáveis e que chamam a atenção do consumidor.
MERCADO E PESQUISA EM LINHA
Em rota de crescimento cada vez mais rápido, a sustentabilidade do delivery está na ordem do dia. Os novos hábitos de consumo, causados pela pandemia da Covid-19, fez o mercado global de delivery online de comida crescer 27% no ano passado. Passou de US$ 107 bilhões (R$ 575 bilhões), para US$ 136 bilhões (R$ 731 bilhões) em 2020, de acordo com um estudo de fevereiro deste ano da startup espanhola Comprar Acciones.
Esse gigante mercado busca por parceiras como Olivia Yassuda, responsável pela estratégia da OKA Bioembalagens, empresa que nasceu no Centro de Raízes e Amidos Tropicais da Unesp (Universidade Estadual Paulista), no campus de Botucatu (SP). “Hoje, muitas empresas já estão nascendo com DNA alinhado à sustentabilidade verdadeira, com produtos de alto impacto social e baixo impacto ambiental e assim buscam embalagens que sejam coerentes com seu produto, seja na área agrícola, alimentícia ou bens de consumo em geral”, afirma Olívia.
O mercado global de embalagens plásticas é gigante e é nessa seara que os produtos biológicos trabalham para capturar valor. De acordo com o relatório Flexible Plastic Packaging Market, publicado pela Markets and Markets em outubro do ano passado, o mercado global de embalagens plásticas flexíveis está projetado para crescer de US$ 160,8 bilhões, em 2020, para US$ 200,5 bilhões em 2025. Aqui no Brasil, uma pesquisa sobre o potencial doméstico na Mercado Livre, de fevereiro deste ano, mostra que em seu market place a busca por produtos sustentáveis cresceu cerca de 55% entre 2017 e 2020.
A pesquisa tem sido fundamental para aumentar a oferta de tecnologias destinadas à produção de películas biodegradáveis, à base de substâncias naturais, entre elas a mandioca. Esse caldeirão é objeto de estudos de empresas privadas, mas, principalmente, de instituições como a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) que corre contra o tempo. A Rede AgroNano (Rede de Nanotecnologia Aplicada ao Agronegócio) reúne cerca de 160 pesquisadores, em 14 unidades da Embrapa e 39 outros institutos de pesquisa ou universidades, e dela já saíram inúmeros estudos. No caso das películas comestíveis, a partir de frutas e legumes – e que a participante do BBB poderia comer tranquilamente -, as pesquisas já duram mais de duas décadas e continuam sendo aprimoradas.
A busca é por produtos, como as embalagens da Já fui Mandioca, que utilizam 100 vezes menos água para serem produzidas e que se transformam em adubo, em até 90 dias. Ou tecnologias de processamento mais rápido, por exemplo, com o uso de aditivos para diminuir o tempo da fabricação das embalagens. Mas, principalmente, busca-se por produtos totalmente biodegradáveis para dar resposta a um dos maiores pesadelos da humanidade: o acúmulo de lixo.
Embalagens plásticas podem levar de 100 a 400 anos para se deteriorarem na natureza. Estudos da ONU (Organização das Nações Unidas) e do Banco Mundial, mostram que 1,4 bilhão de toneladas de lixo são produzidas anualmente no mundo. Em dez anos serão 2,2 bilhões de toneladas anuais e, se o ritmo for mantido, em 2050 serão quatro bilhões de toneladas de lixo urbano, por ano. Embalagens, como as de mandioca, podem contribuir para que essa conta macabra não se realize.
Fonte: Forbes.